Tuesday, April 15, 2008

É claro que houve muita coisa que mudou

Mas para melhor?

Isso é muito relativo...
Depois de te habituares a determinada pessoa.... Não sei explicar.

Tenta...

Por exemplo, uma das coisas que sinto mais falta é de saber que tinha alguém para dormir comigo todas as noites... Adormecer abraçado à pessoa que amas e senti-la ali durante toda a noite... Às vezes ainda acordo e faço gestos e falo como se ele ainda lá estivesse.

Mas vocês viveram juntos?

Mais ou menos...

Então mas ainda gostas dele?

Não é isso... também não sei explicar. Não gosto dele porque tudo o que ele me fez acabou por estragar aquilo que sentia. E o pior é que me chego mesmo a arrepender de coisas que ainda ia fazendo quando tinha plena consciência de que o que tínhamos já não era nada.

Então porque continuaste?

Porque foi muito tempo... e porque realmente gostava dele. E isso ilude. Faz pensar que será apenas uma fase... Que vai passar...

E passou?

Às vezes sim. Ele era estranho nisso. Quis continuar depois de ter acabado comigo. Arrependo-me de ter dito “sim” nessa altura.

Não o voltavas a fazer?

Provavelmente faria... É como disse. Quando gostas a sério, iludes-te demais.

Mas esse era um amor equilibrado?

Acho que nunca foi... Primeiro era tudo ele e agora tudo eu. Nunca encontrámos esse equilíbrio.

Não tentaram?

Nunca falámos sobre isso. No inicio ele nunca me falou do que sentia. Ou então eu não quis entender o que ele me dizia. Foi aí que as coisas aconteceram... E depois era eu que tentava falar com ele e ele que não queria ouvir.
Sei que no fim isso já não importava. Ambos sabíamos o que ia acontecer. Ele mais do que eu...

Porque dizes isso?

Porque enquanto me dizia que estava a tentar resolver as coisas com ele próprio. Estava na realidade a resolver as coisas com outra pessoa.

E tu sabias?

Acabei por saber.

E não fizeste nada?

Fiz. Parei de tentar. Estava cansada. E se ele já não lutava, porque o haveria eu de fazer?

E agora?

Agora não sei. Já passou a fase em que me importei com isso. Espero que seja feliz. Mas conhecendo-o... acho difícil.

Mas ainda falas muito dele.

Nem por isso. Falo mais com pessoas que não o conheceram. Ou conheceram mal. Grande parte dos meus amigos odeiam-no e então prefiro não falar disto com eles. Mas falo claro, senão falasse é que era grave, não é?! Era sinal que não era capaz.
Tudo isto, apesar de tudo, fez-me muito bem. Há muito tempo que não me olhava num espelho e gostava do que realmente via. Há muito tempo que não vivia para mim, com a minha cabeça. Tomava as minhas decisões depois dele tomar as dele. Achava que assim ia conseguir conciliar as nossas diferenças. No entanto dele só ouvia criticas. No inicio construtivas. Agora, tanto ele como eu sabíamos que aquilo era para me destruir. Na cabeça dele e na minha que perdia a força para tomar qualquer decisão. Ele tornou-se muito manipulador e egoísta.

Consideras que vocês são muito diferentes?

Cada vez mais. Mas dou margem de dúvida... Acho que ele queria que o visse desse modo para perder o interesse. Deu resultado.

Então e agora? Apaixonaste-te outra vez?

Não. Apaixonar-me outra vez vai levar tempo. Mais não seja na minha cabeça. Quero respirar primeiro e assimilar todos os erros que cometi. Aprender com eles.

Queres um amor mais racional?

Não necessariamente. Basta que seja amor.

Encontraste-o?

Em mim, sim.

E como está a ser agora? Como te sentes?

Bom... sinto-me como se tivesse mudado de casa. Há muita coisa desarrumada. Sentes falta daquela familiaridade que tinhas com algumas coisas. Mas é um recomeço. Não sabes se vai correr bem ou mal. Mas desta vez, pelo menos, vai estar tudo mais arranjado ao teu modo.
Não tá a ser difícil, nem fácil. Está a ser normal para este tipo de coisas. Quero que passe. Mas não depressa. É como já disse, quero aprender com isto.

Foi muito tempo. Achas que perdeste esse tempo?

Não. Acho que como tudo, teve aspectos positivos e negativos. Importa que saibamos lidar com os últimos e recordar os primeiros da melhor forma. É preciso que recordar não magoe. E no inicio isso ainda acontece.

Acreditas que consegues impedir-te de te apaixonar?

Sim. As paixões são formadas primeiro na nossa cabeça. Precisamos é de ter noção do seu nascimento e cortá-lo logo ao inicio. Só te apaixonas se quiseres. Se alimentares esse sentimento. Claro que tudo vai depender da pessoa que está do outro lado. Se o interesse for mutuo, torna-se mais difícil dizer não. Até porque qualquer pessoa se sente bem ao saber que tem alguém que gosta dela. Desde que as coisas não se tornem complicadas. É normal ter essa necessidade de reconhecimento.

E no amor para sempre, acreditas?

No amor sim, na paixão não. Assim como não acredito num “amo-te” dito até não se chegar a determinado degrau uma relação.
Tenho uma imagem que me deram para demonstrar isso: a paixão é como um fósforo. Incendeia-se depressa. Mas apaga-se ainda mais depressa. No entanto, algumas paixões, se alimentadas, tornam-se em muito mais. Fogueiras. E essas fogueiras são o amor. Quando duas pessoas deixam de ser o “apenas uma” pelo qual se luta no inicio de uma relação, e passam a ser uma só, inseridas no mundo gigante que as rodeiam. É aí, onde se encontram os verdadeiros problemas e as verdadeiras lutas que quando travadas e ganhas, alimentam ainda mais esse lume.

E sexo sem amor/paixão?

Não passa de sexo. Não vou por aí. Perde todo o interesse. Torna-se mecânico.

Então e futuro? O que pensas fazer agora?

O que já ando a fazer. Não há melhor remédio do que seguir em frente. Seguir com sonhos que tinham sido esquecidos. Escutar outros que nunca se puderam expressar. Estou apaixonada pela vida. Pela música, escrita, pintura e fotografia. Estou apaixonada pelas pessoas que todos os dias estavam ao meu lado e que mal escutava.
Tenho saído e trabalhado. E tenho colhido os frutos desse trabalho. No fundo é isto que quero para o futuro. Ser melhor. Fazer o que não nos é imposto.
Há coisas na nossa vida que praticamente já estão definidas: trabalhar, casar, ter filhos. Isso sei que quase de certeza farei. Mas neste momento quero fazer aquilo que não sei. Agarrei num pincel sem saber pintar e aprendi a pintar com as mãos. Criei imagens que agora estão expostas, porque quis aprender a fotografar. Faço parte de um projecto de musica porque há algum tempo não tive medo de arriscar. Conheci pessoas fantásticas em todos esses lugares.
Não sei no que isto vai dar... Não faço mesmo ideia. Mas isso dá-me uma certa adrenalina. Saber que sou a única que posso desenhar os meus caminhos.

Então e a faculdade? Não falaste disso.

Nunca me apliquei muito a isso. Faço-o para ter uma rede de protecção em caso de queda. De qualquer modo já estou a meio do curso. Mais um ano e saio daqui. Quero sair de Lisboa, de Portugal, quem sabe, mesmo da Europa. Não quero ficar demasiado tempo quieta no mesmo espaço. Mas ainda preciso de tempo para crescer. Este ano e meio vai servir para isso mesmo. Não quero ir com sonhos de criança. Quero ir com objectivos de adulto. Conheço as minhas limitações. E não são poucas.

Não estarás a tentar fugir? A ocupar o teu tempo?

Já me tinha perguntado isso. Não. Estou só a aproveitar o tempo perdido.

À pouco disseste que não consideraste este tempo como tempo perdido.

E não foi.

Bom, estou a ver que vamos ter aqui muito em que trabalhar então.

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