Monday, July 24, 2006

Uma flor que era a minha vida...


Falta uma flor no meu jardim
Uma flor que amei
Que amei e cuidei o melhor que pude
Uma flor cheirosa
Que todos os dias tentava regar com amor
Uma flor que era a mais bela de todas as flores
Uma flor que um dia não encontrei no meu jardim
Uma flor a quem dedicaria a vida até ao fim se pudesse
Uma flor que era a minha vida…

Espinhos… malditos sejam
Estragaram a minha flor…

Falta uma flor no meu jardim
Uma flor que ainda amo
Que fugiu porque o que tinha não era suficiente
Uma flor agora realizada
Tem agora o que deseja
A minha flor ganhou asas e voou
Não precisa de adubo, água, sol ou amor
Apenas de si

Flor… todas as noites rezarei por ti
A cada estrela pedirei a tua felicidade
Mas não me podes pedir que deixe de te amar…
Cresceste comigo, bebeste da minha vida,
Deste-me em troca o teu amor

Falta uma flor no meu jardim
Uma flor que ganhou asas e voou
Uma flor que me deu raízes para sempre para a puder ver voar!
^^Medusa^^

Livro de Horas...


Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos
pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
Miguel Torga